A homeopatia como uma especialidade terapêutica

Conversamos com o Dr. Fernando Morales, psiquiatra infantil, que trabalha no Serviço de Psiquiatria do Hospital do Servidor, desde 1974. Naquela época, ele foi estagiário, pois não havia a residência médica.

Segundo o Dr. Fernando, o serviço de Psiquiatria Infantil atende pacientes desde o nascimento até aos 17anos e 11 meses, sendo que a procura maior é na faixa escolar. Atualmente conta com quatro médicos que atualizam a terapêutica medicamentosa, acompanhando a evolução farmacêutica e sempre levando em consideração as relações familiares e sociais.

A alopatia & Homeopatia

Como a especialidade do Dr. Fernando é destinada a crianças e adolescentes, há anos ele tem contato semanal com a Pediatria, para discussão de casos de pacientes internados. Frequenta também algumas reuniões deste Serviço. Foi em uma delas, há cerca de quatro anos, quando o Dr. Paulo Huvos, pediatra homeopata, apresentava os bons resultados obtidos em seu ambulatório que o Dr. Fernando se motivou a trabalhar também com a medicação homeopática.

Inicialmente foi autodidata e depois frequentou por dois anos o Centro de Estudos, Pesquisas e Aperfeiçoamento – o CEPAH, sob a coordenação do Prof. Dr. Marcelo Pustiglione, livre docente em clínica homeopática, para aprofundar os trabalhos de Samuel Hahnemann, o fundador da homeopatia. “À medida que me senti confiante fui substituindo a medicação tradicional pela homeopática com resultados que me convenceram de sua eficácia”, nos contou o Dr. Fernando.

As consultas

As consultas psiquiatria infantil demoram de 20 a 40 minutos. Os retornos requerem menos tempo de consulta. É necessário conversar com as mães, mas é preciso a interação com a criança. “As mães eventualmente podem ter alguma participação no quadro psiquiátrico do seu filho. Às vezes são ausentes. Ou, ao contrário, exigem demais, ultrapassando o potencial do filho, sem perceber que brincar, para uma criança, é a coisa mais importante do mundo. Mas nunca as vejo como culpadas”, afirma o Dr. Fernando.

A marcação de consultas na Psiquiatria Infantil é feito indistintamente. Assim o paciente ao chegar pela primeira vez e ao se deparar com o atendimento aceita com prazer, e muitas vezes com alívio, poder evitar “remédios fortes” para seu filho.

Quando o paciente não aceita o tratamento homeopático, sua vontade é respeitada. O Serviço não tem demanda reprimida, sendo relativamente fácil a marcação de consultas novas e os retornos são marcados de acordo com a necessidade do caso. Enfim, o serviço oferece condições para um bom atendimento.

O diretor da Psiquiatria do HSPE, o Dr.Giordano Estevão, nunca opôs resistência ao uso da homeopatia e concedeu a possibilidade de receber médicos homeopatas que não pertençam ao corpo do serviço a acompanharem o atendimento aos pacientes, às 4as. feiras nos ambulatórios, quando são feito debates e estudos mais aprofundados, em benefício das crianças e adolescentes ali atendidos por mais de um médico.  A única questão que o preocupou, na época da sua implementação, há quatro anos, era se o paciente ia sentir-se confortável e ser atendido por mais de um médico. Como a prática demostrou boa aceitação e concordância prazerosa, não houve problemas.

O Serviço de Psiquiatria, desde quando o Prof. Dr.Carol Sonenreich era diretor, tem reuniões clínicas semanais, onde se tem total liberdade de expressão, criando-se um espaço de discussões onde as visões diferentes convivem pacificamente.

Assim, nesse caldo de liberdade, o Dr. Fernando diz sentir-se livre para expressar-se e não percebe preconceitos. Ele diz que: “o médico deve ter uma visão global, deve se interessar por diversas formas de abordagem terapêutica”. Sob essa perspectiva, ele enfrentou, com o conhecimento da homeopatia, casos que são sempre um desafio para a psiquiatria convencional. É um médico com visão unicista, prescrevendo um remédio de cada vez. Também é adepto de dosagens baixas, para começar o tratamento.

Segundo o Dr. Fernando “cada paciente tem um perfil que se ajusta melhor a determinado medicamento. O perfil é, às vezes, o próprio medicamento.”.

As crianças vivem uma nova realidade: mães que trabalham

O Dr. Fernando julga que não se deve exagerar o enfoque da mãe trabalhar fora, pois muitas vezes observa-se o contrário: mães insatisfeitas e sobrecarregadas pelo serviço doméstico, além dos cuidados dos filhos, gerando tensões familiares que atingem seus filhos.

Infelizmente com a evolução da violência e dos menores espaços lúdicos públicos, são impedimentos para que as crianças interajam livremente nas ruas, trocando experiências. Cada família vive em seu pedaço restringindo o desenvolvimento normal, o que motiva o aumento de clínicas especializadas. Qual criança hoje joga amarelinha, sobe em árvore, caça passarinhos, …

O perfil do paciente e a medicação

Hiperatividade, agressividade, dificuldades escolares, desobediência, convulsões, transtornos obsessivos. O rol de distúrbios é vasto e desafiante no ambulatório. Mas os casos que há 35 anos ele tratava com estabilizadores de humor, antidepressivos e tarjas pretas, hoje são homeopatizados – com vantagens evidentes para o estado geral e emocional da criança.

Para àqueles que alegam que a homeopatia tem efeito placedo, o Dr. Morales responde: “O efeito placebo está presente em qualquer conduta médica. Não encontrei diferença entre os 35 anos de prática alopática, comparados aos últimos quatro anos de prescrição homeopática”. Para ele tudo isso se resume numa conclusão: “Os médicos deveriam ter uma formação global em seu currículo acadêmico para poderem assistir melhor aos seus pacientes”.

A Residência médica na psiquiatria

A formação do médico residente na Psiquiatria é baseada exclusivamente na alopatia. O Dr. Fernando julga que os mesmos estão recebendo ótima formação e que é fundamental. Ele praticamente não mantém contato com estes residentes. Quanto aos residentes da Pediatria ele diz que: “discutimos os casos e mostramos alternativas conforme o conhecimento e segurança do prescritor”.

O uso da homeopatia depende do interesse dos residentes em conhecer esses procedimentos; mesmo se o interesse existir demandará um tempo longo que eu não tenho esperanças de vivenciar.

Para finalizar, defendo que a homeopatia deveria ser uma especialidade terapêutica que o médico deveria conhecer para acrescentar ao seu arsenal.

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